A EDUCAÇÃO JUDAICA E A IMPORTÂNCIA DO PAPEL DA FAMÍLIA

09/02/2012 02:51

 

Por José Ribeiro da Silva Júnior, Prof. Dr. h. c. (profjunior@beittikvah.org.br.ms)

 

Na realidade, considerando a importância do papel familiar, percebemos que tal influência é o primeiro “ponto de contato” de qualquer indivíduo. É por ela, que o ser adquire crescimento, formações e transformações positivas ou negativas, que por sua vez contribuirá ou não para com o desenvolvimento do mesmo ou da sociedade em que tal ser influencia no seu “habitar-procedimental”. Para o Povo Judeu, o ser humano já apresenta vida e capacidade a partir da fecundação, isto é, antes mesmo de seu nascimento[1]. Não diferente do que de fato, nos aponta a Ciência, segundo os estudos de Rima Shore, que nos afirma:

 

Os neurocientistas têm mostrado que, no decorrer de todo o processo de desenvolvimento, começando mesmo antes do nascimento, o cérebro é influenciado por condições ambientais, incluindo o tipo de criação, cuidados, ambiente e estimulação que o individuo recebe. (2000, p. 09).

 

De fato, para a comunidade judaica em especial, a família é um elemento fundamental para a transposição de regras e condutas, tanto religiosas quanto sociais. Assim, é por ela que os ensinamentos extraídos da Torah[2], Tanach[3], Talmud e Brit Chadashah[4] são propostos aos indivíduos pertencentes a esta etnia, conforme nos apresenta Kliksberg (2008), ao relatar que:

 

O judaísmo tem idéias estruturadas a este respeito desde suas origens, e sua consagração da família como entidade pilar da vida judaica é uma das características centrais da identidade judaica. Honrarás teu pai e tua mãe já prescreviam os Dez Mandamentos. No texto bíblico há um alerta drástico: Amaldiçoado seja aquele que ultraja seu pai ou sua mãe (Devarim, 27:16[5]). As normas básicas não deixam lugar a dúvidas nem a ambigüidades. Honrar os pais - aspecto básico da relação familiar - é um dever inevitável. As relações entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos entre si e parentes imediatos são cuidadosamente definidas, buscando assegurar a harmonia do núcleo familiar.

 

Nesse pressuposto, os conhecimentos Bíblicos em si, tornam-se como uma “bússola de vida” para o povo Judeu, pois sua maneira de pensar, agir e de enquadrar-se relacionalmente, provém de determinações fundamentadas nas Escrituras Sagradas. Assim como nos informa um dos maiores filósofos do Brasil e residente em Israel, Marcelo Dascal, que:

 

o aspecto interessante é que os sábios do Talmud, bendita seja sua memória (como se costuma dizer), discutem o tempo todo, porque, apesar da lei estar estabelecida na Torá, a questão é como interpretá-la. Você vê que o Talmud é baseado na ideia de que Deus transmitiu a Moisés não só a lei escrita, que está na Torá, mas também a lei oral; ora, o Talmud trata da reconstituição – na verdade, da criação – dessa lei que regula a vida diária do judeu religioso. (2008, p. 03).

 

Algo bastante relevante para se definir a importância dos estudos Bíblicos, são as citações de Shlomo HaMelech[6], da qual podemos destacar em seu Livro de Provérbios, a seguinte referência: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (22.6). O interessante é que este conceito, pode ser percebido pela Ciência. Não resumindo-se apenas como religioso ou filosófico, mas, como de fundamental relevância para a Psicologia. A prova disso, está no estudo de Shore (2000), em que a mesma, afirma que “quanto mais cedo as crianças receberem cuidado e educação intensivos, tanto maiores e mais duradouros serão os ganhos” (p. 99). Em confirmação com os pressupostos descritos a milhares de anos. Além do mais, dentro desta mesma perspectiva, temos a reflexão proposta por Kliksberg (2008), considerando que:

 

Em uma época em que a criminalidade aumenta desenfreadamente, observa-se que o que se aprende do aspecto moral no âmbito familiar, nos primeiros anos de vida, é decisivo para que, mais tarde, o jovem caia ou não em condutas delituosas. Assim sendo, a família é percebida como o instrumento mais eficaz de prevenção do delito, a serviço da sociedade. Alguns economistas indicam, ainda, que não há nenhuma unidade produtora de serviços sociais, seja pública ou privada, que se possa comparar em eficácia à família. [Portanto] esta gera serviços nutricionais, educacionais, de saúde e outros a seus membros, com a mais alta qualidade e os maiores níveis de eficiência existentes.

 

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REFERÊNCIAS

 

DASCAL, Marcelo. Entre a Filosofia e o Talmud. Rio Grande do Sul: WebMosaica, 2008. 8 p.

 

KLIKSBERG, Bernardo. O redescobrimento da família: uma perspectiva judaica. Revista Morashá, ed. 62, set. 2008. Disponível em: . Acesso em: 04 out. 2009.

 

SHORE, Rima. Repensando o cérebro: novas visões sobre o desenvolvimento inicial do cérebro. Traduzido por Iara Regina Brazil. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2000 – Título original: Rethinking the Brain.

 

 

Fonte:

 

SILVA JÚNIOR, J. R. A educação familiar como transformadora da sociedade: um paralelismo para com a Educação Institucional sob os aspectos projetados por uma visão educacional talmúdica. Monografia – Licenciatura em Pedagogia, Faculdade de Imperatriz, 2010. p. 16–18.

 


[1] - Jó 10.8-11; Salmos 139.13-16; 31.15; Jeremias 1.4-5; Isaías 49.1-5; Gálatas 1.15-16.

[2] - Conjunto de livros Sagrado que reúne os cinco primeiros livros Bíblicos, conhecido como Pentateuco.

[3] - Conjunto de livros Sagrados que reúne a Torah, Neviim (Profetas), Ketuvim (Escritos, compostos por onze livros considerados poéticos e históricos), conhecidos assim, como Antigo Testamento.

[4] - Neste caso, a Brit Chadashah (Novo Testamento) é aceita somente pelos Judeus Messiânicos, pois os Judeus Ortodoxos não aceitam este Livro como referência religiosa, tendo em vista a sua não aceitação a Yeshua (Jesus) como Messias.

[5] - O mesmo que Deuteronômio 27.16.

[6] - Salomão O Rei. Filho de David O Rei, Salomão proporcionou um dos mais notáveis reinados da história do Povo Judeu.