A MULHER JUDIA MESSIÂNICA: Conversa/entrevista de Evelin Ojeda Coronel e Eliana Coronel com Shaliach Roe Ícaro

12/02/2012 14:09

 

Por José Ribeiro da Silva Júnior, Prof. Dr. h. c. (profjunior@beittikvah.org.br.ms)

 

No período de Pessach (Páscoa), em uma conversa (entrevista com o Shaliach Roe Ícaro), Evelin Ojeda Coronel e Eliana Daniela Ojeda Coronel, judias messiânicas venezuelanas, falaram sobre a atual situação das mulheres que seguem a visão da Torá, na fé do Mashiach Yeshua. Abordando suas carências e desafios futuros, com o crescimento do judaísmo messiânico, na America Latina e EUA.
Leia os principais tópicos desta conversa (entrevista), que aconteceu em Manaus, no período de Pessach 5771 (abril de 2011).

 


No Hotel Brasil, centro de Manaus, onde aconteceu a conversa/entrevista entre Shaliach Roe Ícaro e as irmãs Evelin Ojeda e Eliana Coronel

 

Shaliach Roe Ícaro: Há quantos anos você segue a prática do judaísmo messiânico, e em quais as Congregações você tem participado?
Evelin Ojeda: Estou no judaísmo messiânico há 13 anos, tenho participado de congregações judaico messiânicas pioneiras na Venezuela, como Bet-El Shaday e Adonay Roi de Caracas, também contribuí com a Bet El Shaday de Puerto La Cruz.
Shaliach Roe: Há quantos anos existe judaísmo messiânico na Venezuela?
Evelin: Há 17 anos.
Shaliach Roe: Como você chegou ao judaísmo messiânico?
Evelin: Cheguei ao judaísmo messiânico em 1997, após uma ruptura com o movimento evangélico tradicional, após ter participado do 3° Congresso Judaico Messiânico (Bet El Shaday) em Caracas. O ponto chave da minha decisão foi sentir o chamado de Adonay, depois de ter ouvido o toque do shofar. Ainda tentei resistir, tentando retornar a minha antiga religião, quando lá mesmo, ouvi a leitura do texto bíblico de Rute 1:16: “E Rute disse: ‘Não me obrigues a abandonar-te, a desistir de te acompanhar, pois, onde fores, eu irei também, aonde te alojares, ficarei também; teu povo será meu povo e teu Deus será meu Deus!’”.
Shaliach Roe: Qual a sua primeira percepção sobre o papel da mulher judia messiânica?
Evelin: Primeiramente isto aconteceu na Bet El Shaday de Caracas, onde participei por oito anos, aprendendo e realizando a preparação das festas bíblicas, a preparação dos alimentos (cashrut), a organização da Sinagoga. Participei também por vários anos do ensino das crianças no judaísmo messiânico; a língua hebraica, os conceitos sobre o uso do talit. Também assumi a parte financeira da Congregação, por um período de cinco anos. Tive oportunidade de participar da organização de congressos, concertos e das festas de Pessach. Desenvolvi todo esse trabalho juntamente com o Rav Eliézer Bograd.
Shaliach Roe: Qual foi a sua motivação para participar do surgimento de uma nova Congregação Judaico Messiânica, em Caracas, a Adonay Roi?
Evelin: Por sempre ter crido que o Rav Edrey tem um chamado de Adonay à obra, e quis ajudar os lideres que tem um chamado genuíno do Eterno para sua obra, com uma convicção que tenho por parte do Ruach HaKodesh (o Espírito Santo).
Shaliach Roe: E a sua experiência com Roe Nerwin (hoje na França) em Puerto La Cruz?
Evelin: Eu conheci sua esposa Belén ainda na Bet El Shaday de Caracas e, percebi que Nerwin tinha um chamado de Hashem para organizar uma Congregação. Sempre procurei colaborar com ele, quando necessitava na organização de algum evento.
Shaliach Roe: Como você vê o papel da mulher judia messiânica nas congregações venezuelanas?
Evelin: Creio que há necessidade de explicar e esclarecer as mulheres judias messiânicas de seu papel, pois precisam aprender as leis e os costumes, por causa do cashrut, como não misturar carne com derivados de leite. Também o aprendizado que devem obter como se vestir para ir a Sinagoga de forma apropriada.

 

 

 

Evelin Ojeda, 13 anos de aprendizado e ensinamento no perfil do judaísmo messiânico

 

Shaliach Roe: Há ainda muitos costumes não judaicos no perfil da mulher judia messiânica?
Evelin: Ainda falta um aprendizado das mulheres no tocante a esses costumes; tenho visto apenas três ensinamentos básicos, dados ao longo de 13 anos. Em 1997 em Caracas, a esposa do Rav Haim Lev (Raquel) nos trouxe muitos ensinamentos. A mulher judia messiânica precisa de um ensinamento especifico, para ser uma mulher judia. Seria necessário como uma alfabetização. Um exemplo disto aconteceu no principio na Adonay Roi, quando ensinavam as mulheres a fazer chalot (os pães do shabat).
Shaliach Roe: Como a mulher judia messiânica observa as leis de purificação?
Evelin: Por muito ter investigado, descobri que é bom para a saúde da mulher. Penso, que primeiro fazemos por obediência e depois entendemos. O povo de Israel diz: Primeiramente “Ouvimos e Faremos” depois “Faremos e Compreenderemos”. Muitas mulheres judias messiânicas ainda tem muita resistência em cumprir as regras por simplesmente não querer aceitar, para não romper o paradigma de todo o ensinamento romano. Muito por não querer se submeter à autoridade do marido.
Shaliach Roe: A mulher judia messiânica está cumprindo o seu papel matriarcal na família?
Evelin: Está muito deficiente. Isto parece ser abrangente a outros países, também nos EUA. Comparando as práticas das Sinagogas Tradicionais e Messiânicas, há uma distância; por exemplo: as mulheres não ensinam a respeitar o serviço religioso. Na França percebi uma reverencia, nos EUA não. 
Shaliach Roe: Como está o ensinamento da língua hebraica aos filhos?
Evelin: Muitas mães não sabem a língua hebraica, e muito menos conseguem passar para os filhos.
Shaliach Roe: Qual a grande influência da mulher judia messiânica para a melhoria de vida no lar, em nossos dias?
Evelin: Elas ajudam os homens nos serviços domésticos para que estes possam se dedicar ao estudo da Torá. Pode-se notar a calmaria que reina em uma casa no shabat. Muito embora, muitas não a cumpram com perfeição. 
Shaliach Roe: Como está a atuação do feminismo no judaísmo messiânico?
Evelin: Há muita influência, principalmente no EUA, onde as mulheres, algumas usam talit e kipá. Na Venezuela e na França ainda é pouca, já que as mulheres respeitam suas posições. Não estamos depreciando a mulher, não estamos diminuindo a sua importância. A mulher judia pode acessar o Sêfer Torá uma vez ao ano, na Festa de Simchat Torá, na dança. Deve-se distinguir entre o trabalho do homem e o da mulher em uma congregação judaica.
Shaliach Roe: Qual a sua visão sobre a ESHET CHAYIL (a mulher virtuosa) e a mulher judia messiânica atual?
Evelin: Que falta um bom caminho para chegar até lá. Penso que a mulher deve procurar estudar as leis da Torá, para conhecer o seu papel.
Shaliach Roe: Como você vê o futuro das mulheres judias messiânicas?
Evelin: Se não há ensino, não há conhecimento. Será um problema. Elas ensinam os filhos, e eles serão a futura geração. Pode extinguir ou retroceder o Movimento Judaico Messiânico. Poderá ser comprometedor para as futuras famílias. Se os filhos não entendem que não se pode casar fora do judaísmo, a tradição estará comprometida. As jovens judias messiânicas estão casando com judeus messiânicos, no entanto é pouco. Muitas mulheres judias messiânicas estão sentindo a falta de homens comprometidos com a Torá. Elas são muito mais comprometidas com a Torá do que os homens.
Shaliach Roe: O que você pensa de uma mulher na Presidência do Brasil?
Evelin: É contra a Torá a mulher assumir uma posição de autoridade sobre os homens. Débora (Devorá) foi uma exceção, pois os homens não desejavam assumir a autoridade. Foi um caso excepcional, mais se há um homem que aceite a responsabilidade, a mulher deve deixá-lo.
Shaliach Roe: Que mensagem você deixaria para as mulheres no Brasil que querem abraçar o judaísmo messiânico?
Evelin: Dentro da fé judaico messiânica, a mulher é exaltada, valorizada e muito importante. Terá a oportunidade de se esforçar para estudar, aprender e se aproximar mais de Elohim (D’us).
Shaliach Roe: O que representa para uma mulher judia messiânica crer em Yeshua?
Evelin: Yeshua é o motivo de nossa adoração, o caminho que nos une ao Pai. Não devemos ignorar que é o caminho que nos une ao Pai. Nos aproximamos do Pai ao fazer tefilot (orações) no nome de Yeshua. Ele é o que me dá sentido a vida, quem me trouxe a essa visão, que me faz ser judia, além de ser o Messias 100% judeu.

 

 

 


Eliana (esq.) e Evelin (dir.), mesmo sangue e a mesma fé: Yeshua, a Torá Viva

 

Shaliach Roe Ícaro: Como você define o perfil de uma mulher judia messiânica?
Eliana Coronel: O significado de uma mulher judia messiânica, primeiramente deve se levar em conta que Yeshua é o principal em sua vida, em sua casa, em seu trabalho, em tudo; não se pode apartá-lo de sua vida. No judaísmo messiânico isso não é opcional, não é um estilo de vida, e sim uma forma de viver; quando a mulher entra no judaísmo messiânico, sua vida muda completamente, seja para mulher judia de sangue que crê em Yeshua como para uma mulher que não é de sangue judeu, mais o é por fé. Muda sua forma de ser, de pensar, de atuar, deixar de ser individualista, e se torna mais familiar, pensa no esposo, nos filhos, na Congregação, como uma família. A mulher judia messiânica sempre deve estar disposta a servir. Deve compreender a linha de autoridade, aprender mais do judaísmo messiânico, que lhe ajudará em seu crescimento.
Shaliach Roe: Quais são suas observações sobre o judaísmo messiânico no Brasil, e principalmente na Amazônia brasileira?
Eliana: Há muita fome, muita vontade de crescer, de aprender, de seguir uma formação, um estudo formal de cada coisa, e deixar material para geração futura, unificar o judaísmo messiânico na America Latina e no mundo, fortalecer a identidade judia e não deixar que se perca a fé em Yeshua. É importante que se mantenha um equilíbrio entre o estudo da Torá e o Messias, o que havia muito na Venezuela, e agora se tem perdido muito rápido. É uma linha muita fina entre um lado e outro.
Shaliach Roe: Qual a sua opinião sobre a formação de uma Federação Judaico Messiânica na America Latina?
Eliana: Bom, pois vai permitir o surgimento de uma informação, cobertura espiritual, de que há uma cabeça, uma unidade, um corpo todo ordenado. Entendendo que Elohim é um Elohim de ordem. A Federação vai estabelecer uma ordem na America Latina. Dará segurança, que se chegará a uma Congregação saudável.
Evelin: Um cordão de três dobras não se rompe, por haver força.

 

 

Evelin Ojeda Coronel – judia messiânica venezuelana.
Técnica em Markentig – Gerente de vendas.
“Pela misericórdia de Adonay se mantém firme até hoje esperando o regresso de Yeshua HaMashiach”.

Eliana Daniela Ojeda Coronel – judia messiânica venezuelana.
Chef Internacional – Empresária.
Desde 1998 participa de dança judaico messiânica. Atualmente prepara material de dança para ensinar nas Congregações.

 

Fonte: https://www.betshalomamazonia.com/entrevista-eliana-evelin.php

 

Edição de texto: Elizabeth Benfica
Formatação e fotos: Gabriel Falcão
Tradução: Shaliach Roe Ícaro